Os membros
da Presidência da CNBB apresentaram na manhã desta sexta-feira, 22 de junho,
Nota Oficial da Conferência a respeito da ética pública manifestando indignação
e perplexidade da sociedade brasileira diante de fatos políticos e
administrativos que contrariam a ética pública e o bem comum. Essa situação
"chega mesmo a colocar em xeque a credibilidade das instituições, que têm
o dever constitucional de combater a corrupção e estancar a impunidade",
destaca a Nota.
Os bispos
também lembraram um trecho de um documento da Conferência, Ética, Pessoa e
Sociedade, publicado há 19 anos no qual se perguntava: "como não denunciar
a grande criminalidade dos que desviam, em proveito pessoal, enormes somas dos
órgãos públicos, provocando escândalo e revolta, muitas vezes impotente, da
parte dos humildes, a quem estavam destinados esses bens?".
Outro
aspecto lembrado foi a pergunta sobre a impunidade: "como não solicitar
que os crimes mais graves sejam punidos e que a lei não seja severa apenas com
os pequenos infratores, sem jamais atingir os poderosos e espertos?". Os
bispos reafirmam ainda, nesse questionamento de 1993, uma pergunta sobre a
capacidade da população de continuar acompanhando tudo sem ter uma resposta
firme e rápida da Justiça: "como tolerar que a um grande número de
denúncias comprovadas de corrupção e prejuízo dos cofres públicos não
corresponda a igual número de punições e ressarcimentos? A impunidade é um
incentivo constante para novos crimes e novas violências".
Quase duas
décadas de passaram da publicação desse documento, e a situação continua
sugerindo as mesmas preocupações. A Nota afirma: "O senso de justiça,
sempre presente na consciência da nação brasileira, é incompatível com as
afrontas ao bem comum que logram escapar às penas previstas, contribuindo para
generalizada sensação de que a justiça não é a mesma para todos".
Na Coletiva,
bispos ainda reapresentaram a Nota sobre a Rio + 20 que havia sido divulgada no
dia 20 de junho.
Leia a Nota
na íntegra sobre a ética pública:
Nota da CNBB
sobre a ética pública
"Ai dos
que fazem do direito uma amargura e a justiça jogam ao chão" (Am 5,7)
Fatos
políticos e administrativos, que contrariam a ética pública e o bem comum, têm
sido fartamente divulgados pela Imprensa, provocando uma reação de indignação e
perplexidade na sociedade brasileira. Chega-se mesmo a colocar em xeque a
credibilidade das instituições, que têm o dever constitucional de combater a
corrupção e estancar a impunidade, que alimenta tal prática.
A
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, solidária a este sentimento que
inquieta a população, vem, através do Conselho Permanente reunido em Brasília
de 20 a 22 de junho, manifestar, mais uma vez, sua grave preocupação com estas
suspeitas de violação aos princípios da moralidade e da legalidade
consubstanciados na Constituição Federal.
Já em 1993 a
CNBB questionava: "Como não denunciar a grande criminalidade dos que
desviam, em proveito pessoal, enormes somas dos órgãos públicos, provocando
escândalo e revolta, muitas vezes impotentes, da parte dos humildes, a quem
estavam destinados esses bens? Como não solicitar que os crimes mais graves
sejam punidos e que a lei não seja severa apenas com os pequenos infratores,
sem jamais atingir os poderosos e espertos? Como tolerar que a um grande número
de denúncias comprovadas de corrupção e prejuízo dos cofres públicos não
corresponda igual número de punições e ressarcimentos? A impunidade é um
incentivo constante para novos crimes e novas violências" (CNBB, Ética,
Pessoa e Sociedade, n. 143, 1993).
O senso de
justiça, sempre presente na consciência da nação brasileira, é incompatível com
as afrontas ao bem comum que logram escapar às penas previstas, contribuindo
para a generalizada sensação de que a justiça não é a mesma para todos. Todo
cidadão tem o direito à correta gestão de assuntos e serviços públicos,
afastando-se a deletéria, porque corrupta, conduta dos governantes de tratar a
coisa pública, o patrimônio e negócios públicos, como objetos pessoais postos a
usufruto particular e partidário, e à satisfação de caprichos egoístas.
A sociedade
brasileira espera e exige a investigação de toda suspeita de corrupção bem como
a consequente punição dos culpados e o ressarcimento dos danos. O que temos
assistido, no entanto, parece apontar em direção oposta quando muitos fatos, no
passado e no presente, ficam sem solução e caem no esquecimento. Isso explica o
crescente desencanto da sociedade com as instituições públicas. Os mecanismos
que têm a responsabilidade de passar a limpo as corrompidas estruturas do país
caem no descrédito e ficam desmoralizados se não cumprem o papel a que se
destinam. Nenhum outro interesse pode subjugá-los senão o do resgate da ética
no trato com a coisa pública.
Reafirme-se que
a força dos três poderes da Repúbica está na sua harmonia, no pleno respeito à
sua correspondente independência e autonomia. Os que respondem diretamente por
seu funcionamento, no entanto, nunca se esqueçam de que o poder que exercem
provém da sociedade. Da mesma forma, o agente político se recorde de que é seu
dever ultrapassar as fronteiras político-partidárias, as condicionantes de
oposição-situação, para colocar-se a serviço do Estado e da sociedade, sem
confundir jamais o público com o privado, o que constituiria grave ofensa à
legislação e desrespeito à sociedade.
No
compromisso de construir uma sociedade justa e solidária, inspire a todos a
palavra de Jesus Cristo: "Seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não. O que
passa disso vem do Maligno" (Mt 5,37).
Que Nossa
Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, abençoe nosso povo e anime sua
esperança!
Brasília, 22
de junho de 2012
Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB
Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luís do Maranhão
Vice-Presidente da CNBB
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB
fONTE: PASTORAL DA CRIANÇA NACIONAL
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